quarta-feira, 24 de agosto de 2011

ELE vive, mas NÓS não.




“Brasil, meu país brasileiro...” Meu ou deles? Deles ou daqueles? Qual o caráter dessa população de brancos colonizados, negros boçais e índios indolentes? A quem pertencem? Na realidade, o fato de pertencer não é o mais importante, o destaque é o papel na sociedade. Já que a tal é composta por nós, humanos. Nós? aliás, os brancos. O negro parece não fazer parte da espécie homo sapiens, tenho minhas dúvidas. “Negro não tem alma”, afirmava a Igreja. Em outras palavras, negro não é gente. Mesmo não vivendo no Brasil colonial, a ideia de inferioridade perdura. A diferença é que o negro não é mais escravo, negro é PRETO. Preto digno de pena ou PRETO digno de valor. E o BRANCO - a poderosa cor branca antepassada - hoje, também é digna de pena. Um exemplo próximo: Salvador – BA, Pituba, aquele bairro que todos conhecem como o bairro da classe alta, o bairro dos ricos. Todos os dias, pela manhã, há corpos estendidos ao chão, corpos VIVOS. Vivos como eu e você, mas que infelizmente, devido à diferença entre classes e a inúmera desigualdade social, não possuem o mesmo direito, nem a mesma cama, o mesmo carro, a mesma casa, a mesma mesa de jantar, etc. E ainda dizem que estes seres “humanos” fazem parte da 1ª pessoa do plural. É. “Viajei”, mas não acho correto conjugar o pronome nós ao verbo viver - a depender do que se trata, claro. Levando ao pé da letra, conjugar-se-ia: EU vivo. Vivo porque tenho condições favoráveis para isso. Tenho quem me banque, me sustente até conseguir o meu. ELE vive, uma vez que se autossustenta ou tem alguém para sustentá-lo. O fato é que NÓS não vivemos. O pronome nós engloba a todos quando retoma "sociedade, humanidade" e, para mim, aqueles que estão nas ruas, os que estão sem casa, sem emprego, sem vestes, sem um tipo de sobrevivência, não vivem. Isso não é vida! E na idade média, quem vivia? Os nobres, o clero. Isso porque eram livres, insentos de impostos, concentravam toda a autoridade. A verdade é que independente do período, quem tem mais sempre viverá mais e, supostamente, melhor. Claro, descobrimos o valor do poder, o valor das terras, o valor do açúcar, do café e do gado. No século XIX então, o cientificismo e as máquinas trouxeram mais poder. E foi a partir daí que ,mais uma vez, o capitalismo agiu sobre o homem. A taxa de desemprego foi aumentando, a frustração e a preocupação tomaram conta da mente humana e os descendentes dessa mesma família passaram a nascer sem expectativa de vida, o que acaba gerando: Gente na rua, gente no semáforo, gente nas estradas, gente no lixão. Por trás de tudo isso, um contexto histórico, no qual sempre levou o homem a querer a liberdade. Até porque, mesmo na idade contemporânea atual, o homem é escravo - Metaforicamente, escravo da vida e dos seus efeitos. “A liberdade que sei é uma menina sem jeito/ Na praça estão os fracos, os velhos, os decadentes e seu grito: "bendita Liberdade"/ e ela se orgulha, de verdade/ do muito que tem feito.” (Oswaldo de Camargo) Se essa foi a liberdade que os negros, escravos, tanto sonharam e alcançaram em 13 de Maio de 1888 pode ser retomada hoje. Aqueles meninos de rua também querem uma liberdade. Supostamente, se livrar do sofrimento vivenciado a todo o momento em casa - não ter o que comer, por exemplo, é algo bem revoltante. Ou estão ali porque quiseram livrar-se das surras e sermões, livrar-se por achar que estavam prontos para o mundo? Parece-me sem lógica esta segunda ideia. Não culpo apenas o governo brasileiro pela sociedade que temos hoje, mas também a falta de interesse em progredir desta. Afinal, Dilma tem sido melhor que Lula. Enfim, são inúmeras razões de um longo e explorado contexto histórico que levaram o homem a querer a desejada liberdade. E estas mesmas me fazem não aceitar a ideia de que exista a conjugação do verbo VIVER na primeira pessoa do plural, uma vez que em um país democrata como o Brasil, todos distam de liberdade, mas nem todos VIVEM dignamente com a tal. Ou seja, ELE vive, mas NÓS não!